Eduardo Pinto Canjongo Daniel docente da Universidade Internacional do Cuanza desde o ano de 2021, lecciona e coordena a disciplina de Química em licenciatura em Enfermagem.
É docente na Universidade Internacional do Cuanza, como tem sido a sua experiência?
Bom, no que toca a experiência digo é positiva, é a primeira universidade com esta envergadura que me recebe no país. Tem contribuído bastante para o meu crescimento e desenvolvimento como profissional. Não é a primeira vez que me desempenho como professor em uma Universidade, levo exactamente um ano cá, no país estava fazendo a formação em Cuba e leccionava na universidade em Cuba, primeiro como monitor e depois acabando de assumir a disciplina de Química como professor mesmo, então é uma experiência grande tenho a possibilidade de poder estabelecer vínculos da diferença que há entre um sistema de ensino e outro porque em Cuba desempenhava de uma forma e aqui de outra, mas quando a pessoa chega a ponto de integrar as duas chega a ser algo muito mais positivo, mais inovador, algo mais significativo.
Podia falar um pouco dessa integração que refere?
Primeiro, nós conhecemos que Cuba é uma potência no que tange a metodologia de ensino. Então, trazer aquela metodologia, poder estudar as nossas em Angola e vinculá-las, eu acho que chegamos a ter uma metodologia, digo assim para não exagerar, quase que perfeita, porque, nós conseguimos conhecer as necessidades que temos cá no país e a partir daí aplicar metodologias que chegam a ser efectivas ou eficientes para superar as necessidades que se encontram cá no país, e, é uma mais valia também porque tenho a possibilidade de a partir dessas relações puder contextualizar as mesmas para aquelas necessidades que se apresentam em Angola especificamente na província o Bié.
Quais têm sido os desafios no ensinamento da disciplina da Química?
Primeiro dizer que os desafios têm sido muitos e se me permite ser um pouco mais lacónico digo os desafios são desafiadores mesmo (risos). Digo isso porque enfrentamos uma sociedade na qual se carece muito de base. Temos estudantes bons não deixo de dizer isso, mas também temos estudantes que necessitam de muita ajuda, isto tudo parte devido ao facto de que a base em Angola continua muito fraca e debilitada. E deveria se olhar já naquilo que são os professores do ensino geral, do ensino primário para começar então a contribuir de forma significativa no crescimento desses estudantes porque há estudantes que deixaram de ver a Química na 9ª classe e temos estudantes até de 50, 60 anos por exemplo. E estes deixaram de ver na 9ª classe há 15 anos. Então pegar estes estudantes agora e começar a introduzi-los no mundo da Química é um desafio dos grandes, mas o professor tem que ter aquela habilidade, tem de ter estratégias, metodologias para puder dar uma virada a realidade e fazer com que todos estejam a caminhar no mesmo barco, não digo que os resultados vão sempre ser positivos, mas o professor tem que tratar de que a maioria parte dos alunos consiga assimilar alguma coisa, até porque o conteúdo que se lhes dá é muito importante para uso na sua vida profissional e na vida quotidiana.
Em que consistem as dificuldades dos estudantes quanto a disciplina de Química? Primeiro dizer que as principais dificuldades que apresentam são dadas à fraca bagagem que eles trazem da base, quer seja a nível matemático, físico e a nível químico. Especifico desta forma, mas estou a falar das ciências a Matemática, Física e Química, porque hoje encontramos estudantes com problemas Matemáticos ainda muito básicos jogos de sinais, operações com números decimais, divisão, e alguns mesmo com problemas de multiplicação. Então, eles sabem que estas disciplinas nós consideramos como interdisciplinares, cada uma complementa-se na outra, e a Química faz muito uso da Física e da Matemática, para achar soluções a determinados problemas que manifesta. Quando falamos de distribuição electrónica, vamos trabalhar com notação científica, isso é mais matemática do que química, vamos falar por exemplo de conversões de escalas termométricas, conversões de medidas, então são problemas que eles acarretam desde a base e repercutem significativamente agora no ensino superior porque são temas que a química usa muito para poder dar saída a certos conteúdos certos conceitos que ela utiliza.
De que maneiras é que o professor deve ajudar para se dar a volta a esta situação, uma vez que os estudantes se encontram no ensino superior?
Para este efeito primeiro eu dou um conselho aos professores que se dedicam ao ensino da química no ensino superior, pressuposto que estamos a falar, primeiro que melhorem a metodologia de ensino. Já sabemos que os nossos alunos têm dificuldades, então o que devemos fazer como professores é pegar nessas dificuldades e transformá-las em uma coisa positiva, ser um pouco mais exigentes com os estudantes. Ser exigente não significa encher eles de conteúdos, ou martirizá-los dando coisas difíceis complexas que não encontrem solução. Digo ser exigente fazer com que os alunos trabalhem mais dar-lhes tarefas. Como professor eu posso dar o tema que está no programa, a partir daí criando exercícios ou atividades que levem o estudante a capacitar-se em relação àquilo que constituía uma lacuna na base. É mudar, melhorar, aperfeiçoar a metodologia e trabalhar mais com os alunos, não deixar desamparado nenhum. Então, eu dou conta que o aluno não sabe química, a questão é, o quê que o professor Daniel vai fazer para que este estudante aprenda? Porque eu já sei da dificuldade. Então o professor deve implementar estudos, desenvolver investigações por exemplo cujo campo de estudo seja a instituição e objecto de estudo os seus alunos, comparar um antes e um depois. Também tenho apelado muito a camada estudantil que estudem com rigor e sejam estudantes de verdade. Porque temos aqueles que pensam que, uma vez que estão numa instituição privada, pagam o dinheiro vai estudar por eles ou o dinheiro vai fazê-los aprovar. Sempre digo, colegas vocês podem pagar (eu chamo os meus estudantes de colegas, estamos numa instituição académica numa cátedra), se vocês não estudarem vão reprovar, não importa se gastem milhões a pagar aqui. Tenho dito também, que podem estar com o melhor professor do mundo, se vocês não depositam esforço de sua parte não vão apreender nada. Então chamar atenção a camada estudantil que se aplique, que estude realmente porque estão num nível superior, aqui o estudo é mais exigente mais rigoroso e um estudante universitário tem que pesquisar, um estudante universitário tem que preocupar-se com as debilidades que traz.
Qual é a aplicação prática da disciplina de Química?
A aplicação prática da química! Quando me perguntam isso fico até emocionado (risos) tenho dito aos meus estudantes que a química está em tudo. Química tem uma aplicabilidade ampla, na vida social e profissional. Para os estudantes de enfermagem muito mais porque Química é vida. Se formos a entrar para a biologia origem da vida, vemos que tudo tem origem no átomo. Então o átomo explica a vida. Nós seres humanos somos constituídos essencialmente por átomos, primeiro vem átomos da junção destes resulta a molécula, da junção destas resultam as células que dá origem a vida, e as células formam os tecidos que formam o sistema de órgãos e tudo teve origem no átomo. Debatem-se muitos temas que chegam a ter uma certa repercussão na vida profissional desses estudantes, principalmente para os enfermeiros. Em química falamos sobre conversões de medida, escalas termométricas. Agora há pouco estivemos a enfrentar um grande brote de covid, estão a ser usados termómetros nos vários pontos de entrada, nas instituições, hospitais, e uma pergunta que faço aos meus estudantes é: imaginem que aquele termómetro que se usa na porta para acesso estivesse graduado na escala usada na Inglaterra por exemplo que é o kelvin, ou no Brasil que é fahrenheit, como saberiam vocês enfermeiros angolanos que o paciente tem febre ou não? Daí a necessidade de aprender a converter estas medidas e isso aprende-se aqui na academia. Estudamos as misturas, os coloides, as cores, é a química que explica. Os enfermeiros técnicos de laboratórios usam métodos de separação do sangue e não só. A UNIC proporciona algo muito bom para os estudantes está dotada de laboratórios altamente equipados que dá a possibilidade de mostrar tudo isso aos estudantes.
Quais sãos os objetivos que o estudante deverá alcançar ao concluir a disciplina?
No final o objetivo é encontrar uma aplicabilidade de tudo aquilo que aprendem aqui para a sua vida prática. Quando o professor fazer com que o estudante veja a importância do que está a aprender, a utilidade que tem para a sua vida profissional então mais interessante fica para o estudante, e tudo aquilo que se transmite o professor deve apresentar um certo carácter aplicativo, demonstrar em que área o estudante irá aplicar o conhecimento, claro que o estudante vai descobrir outras áreas, até porque a universidade não é um lugar onde o estudante vem para ser incutido de conhecimento, não, universidade é um lugar para o estudante desenvolver-se cientificamente, ele traz problemas da vida social para discutir e achar uma solução. O professor deve ter a máxima atenção que todo aquele conteúdo preparado, todo o tema discutido com o estudante deve ser vinculado com a sua vida profissional e social.